terça-feira, 27 de setembro de 2011

UM PASSEIO PELO ESTÔMAGO NA DIGESTÃO



Figura 1
      Após o ato de mastigação, de deglutição (engolimento), de movimentos reflexos peristálticos da faringe ao esôfago  e deste para condução do bolo alimentar até o estômago, o macerado dietético (relativo à dieta), entra pelo estômago através do esfíncter esofagiano inferior (região de controle do bolo alimentar e bloqueia o refluxo do alimento do estômago para o esôfago).
   Inicialmente vamos a um passeio ao estômago, analizando as figuras 1 e 2, relevando  o Fundo,  o Corpo, o Piloro, o Esfíncter Pilórico, o Duodeno e as camadas que revestem o órgão.
   Apresenta uma mobilidade relativamente grande, por ser frouxamente fixado ao peritônio, fígado, baço e intestino grosso. Isso significa que se cheio e quando o corpo está balançando, como num ônibus passando numa rodovia emburacada, o estômago terá uma certa mobilidade.

Figura 2
  
 
    O estômago conta também com a ajuda de substâncias e enzimas que favorecerão ao reajuste do PH e concentração de lipídios no processo digestivo, respectivamente  substâncias alcalinas do suco pancreático e o CCK (colecistoquinina).

Figura 3

Figura 4. Colecistoquinina. Molecular Complex Of Cholecystokinin-8 And N-Terminus Of The Cholecystokinin A Receptor By Nmr Spectroscopy
    A região pilórica então servirá como um mediador do digerido, uma espécie de porteira, onde o estômago enviará uma amostra do conteúdo digerido e receptores químicos vão indicar o PH e a concentração de lipídios.
   A regulação dos movimentos do estômago dá-se de duas formas: através do nervo Vago X que se estende por toda região e de um sistema chamado Plexo Mioentérico por neurônios intramurais, que têm capacidade independente de realizar estes movimentos , devido a recepção mecânica do bolo alimentar. Isso significa que mesmo com uma vogotomia (inibição do Nervo Vago X por injúria ou corte), o estômago continuará funcionando.
   Capacidade máxima aproximal estomacal: 1,5 Litros! Isso mesmo, seu estômago consegue capacitar até essa quantia de alimento, água e gases, óbviamente que é variável, devido a costumes e dietas de cada indivíduo.


ONDAS PELO ESTÔMAGO – UM OCEANO DE MICROVILOSIDADES
   Vamos complicar só um pouquinho? Não existe células musculares nos tecidos estomacais, mas existe um PA (Potencial de Ação), como no coração de 5-15mV. Isto ocorre quando uma pequena onda elétrica é conduzida em direção ao piloro por meio daquele sistema que comentamos no tópico anterior, o Plexo intramural, agindo como um marca passo, como no seu coração! Está emocionado em comer né!
   Acetilcolina é o neurotransmissor responsável pela ocorrência das ondas lentas e hormônios gastrointestinais vão estimular a frequência dessas ondas, produzindo as ondas peristálticas.
Imagem 4: Motilina aumenta a frequencia. Nmr Solution Structure Of Motilin In Phospholipid Bicellar Solution
Imagem 5: Secretina diminui a frequencia. Nmr Structure Of Vasoactive Intestinal Peptide In Methanol

Figura 6


 O epitélio gástrico é revestido pelos estratos indicados na figura 6 e apresenta ainda fossetas  que são invaginações que funcionam como verdadeiros vulcões. Acima das fossetas existe uma camada de muco. Algumas células produzirão o Ácido Clorídrico (HCl) e o Pepsinogênio, onde este ultimo, na presença do ácido clorídrico maturará, formando a pepsina, que é de suma importância para a digestão. O muco irá proteger o epitélio gástrico contra o meio ácido. O ácido clorídrico será então, como dito antes, neutralizado pelo suco pancreático que é altamente alcalino.


   A Figura 7 mostra o transporte ativo do H+ e do Cl- para a Luz estomacal. Repare que o próton H+ provém do CO2 do sistema vascular (sangue).
   Proteção da mucosa estomacal:
  • Junções oclusivas que impede o ácido clorídrico de penetrar entre as células;
  • Camada de muco;
  • Secreção de bicarbonato, neutralizando ácidos livres (Fig. 7);
  • Aumento do fluxo sanguíneo, permitindo a manutenção da proteção.
Figura 7


   A prostaglandina aumenta a eficiência da barreira (Fig 8).
   Este hormônio é inibido na presença de antiinflamatórios. Por isso que sua mãe ou sua avó sempre te mandou tomar antiinflamatórios junto ou imediatamente após a refeição, pois este evento diminui a eficiência da barreira de proteção se for tomado de “barriga vazia”, podendo causar gastrites ou úlceras gástricas.
Figura 8. Dinoprostona (uma prostaglandina).



DETALHES
   O pepsinogênio é convertido em pepsina com o ácido clorídrico num meio de PH 2,0. Mais que isso a atividade enzimática diminui drásticamente. O HCl também desnatura as moléculas ingeridas que serão ainda mais facilmente degradadas. Assim, o PH não deve ser nem tão baixo para desnaturar a própria pepsina nem tão alto para perder atividade, devendo ser exatamente 2,0.
   A regulação destes eventos ocorre por meio de quimiorreceptores e de mecanorreceptores no estômago pelo plexo intramural (lembra?) e pela inervação vagal (lembra também?).



FASES DA DIGESTÃO GÁSTRICA
   Fase cefálica. Os estímulos podem ser a memória (só lembrar daquela lasanha!), aroma (que cheirinho!), da visão (um pudim cremoso!), audição (alguém grita: ta pronto o almoço!), mastigação (hummm ta bom mesmo!) e deglutição (quando desce “redondo”!) e são mediados pela acetilcolina, gastrina e histamina. Nesta fase que o apetite aumenta. A ação vagal é indispensável pois aqui que ocorre a atividade enzimática ácida, proporcionando aquele barulho estranho no estômago de fome.

   Fase gástrica. Ocorre estiramento da parede estomacal por recepção física e química do alimento, através da acetilcolina, gastrina e histamina, por neurônios entéricos e contrações da musculatura lisa e é responsável pela maior parte da secreção ácida.

   Fase intestinal. O quimo (alimento depois de passar pelo estômago), através do esfíncter pilórico, chega ao duodeno. Possui a capacidade de inibir os estímulos estomacais, reduzindo sua motilidade e secreção (reflexo enterogástrico) e conta com dois estímulos,  o nervoso e o hormonal.  Os estímulos são feitos pela secretina, CCK e somatostatina, encerrando a atividade estomacal.

   Fase basal. Nesta fase uma glicoproteína é liberada chamada fator intríseco e liga-se a vitaminha B12 a formar um complexo e ser absorvido pelo íleo (intestino delgado). Outro detalhe é o ferro ingerido, no estado férrico (Fe3+) que não pode ser absorvido, devendo ser reduzido (estado ferroso Fe2+), dependendo do HCl para esta reação.



A REALIDADE
   O estômago não absorve alimento algum. O estômago apenas absorve uma pequena quantidade de água, eletrólito, álchool e algumas drogas lipossolúveis (solúveis a lipídeos – hidrofóbicos).
   O tronco celíaco enviará pela artéria hepática ao fígado, substâncias para detoxicação.



FOME E SACIEDADE
   Quando os níveis de glicose estão baixos, o centro da saciedade é ativado através do hipotálamo. A regulação é feita pela distensão estomacal por receptores mecânicos, significando que se puséssemos um balão inflado no estômago de alguém, esta pessoa perderia a fome. Existem evidências de que o hormônio entérico  CCK também influencia na saciedade da fome.



NÁUSEAS E VÔMITO
   Podem ser provocados por infecções, envenenamento, movimento do corpo, alimentação excessiva, lesões, doenças cerebrais, enxaqueca ou tensão emocional.
   Eliminar o conteúdo estomacal voluntária ou involuntáriamente pela boca ou nariz é o ato do vômito, geralmente após a náusea.
   Estímulos que podem causar: informações intestinais: vírus, bactérias, drogas, como na intoxicação pela maionese estragada; informação do órgão vestibular (labirinto, localizado no ouvido e tem a função de orientação e equilíbrio) e do encéfalo, doenças, traumatismos, dores, enfim. Radioterapias e quimioterapias também podem causar, bem como aplicação de objetos na garganta e crises de tosses.
   Os problemas no ato de vomitar é a perda de líquidos e eletrólitos  e consequentemente alterar o quadro da composição eletrolítica e desidratação corpórea. O suco gástrico pode provocar lesões na mucosa esofágica.
   A mecânica do vômito exige a contração duodenal e gástrica, relaxamento de esfícteres, salivação ampliada e contração de músculos da parede abdominal, aumentando a frequencia cardíaca.


   Referências Bibliográficas:





Corpo Humano 2 CEDERJ Consórcio CECIERJ, Módulo 2, aula 16, Rio de Janeiro.

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